Dor Crônica: compartilhando saberes - tempos de pandemia
Universidade Federal de Minas Gerais
Coordenadora: Profª Drª Célia Maria de Oliveira./ Docente do Dep. Enfermagem Básica/Mestrado e Doutorado na temática Dor.
Email: cmariol@terra.com.br
Tel: +55 (31)9182-7116
Equipe: Fabiana Caetano Martins Silva e Dutra, Gabriel Correia Saturnino, Gabrielle Guimarães Gonçalves, Geisa Maria Emília Lima Moreira, Léa Nemer, Marcela Lemos Morais, Maria Terezinha Araújo, Paulo Henrique de Oliveira Barroso, Renato Ramos Coelho, Wagner Jorge dos Santos.
Instagram: saberes_dorcronica
YouTube: Saberes em Dor Crônica
Facebook: Saberes em dor crônica
1. INTRODUÇÃO
A dor é definida como “uma experiência sensitiva e emocional desagradável associada, ou semelhante àquela associada, a uma lesão tecidual real ou potencial” (RAJA et al, 2020). A dor crônica ganha destaque como um dos temas mais estudados da atualidade, uma vez que causa impacto significativo nas funções físicas, psicológicas e sociais (CARVALHO et al, 2018). Assim, ações inovadoras que contribuam para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e seus familiares são fundamentais, sobretudo quando consideram as inter-relações entre os aspectos biológicos, psicológicos e o contexto social para compreender a percepção do indivíduo sobre sua dor (SILVA et al, 2011; ALCANTARA et, 2013).
Nesse sentido, o projeto de extensão “Dor crônica: compartilhando saberes em tempo de pandemia” se apresenta interdisciplinar, visando atender de forma ampla as pessoas com dor, implementando estratégias para diagnosticar necessidades biopsicossociais; planejar e realizar intervenções que promovam o alívio da dor e a melhora funcional do paciente, promovendo a reinserção no seu meio social, além de estimular o autocuidado (CARVALHO, 2006). As ações desenvolvidas no projeto visam o acolhimento, a terapêutica e a educação para as pessoas que vivenciam dor e são regidas por sentidos e valores centrados na pessoa do paciente como sujeito/objeto do cuidado.
2. OBJETIVO
Compreender a percepção de participantes de um grupo terapêutico para o suporte social multiprofissional voltado para pessoas com dor crônica.
3. METODOLOGIA
Desde 2014, o Departamento de Enfermagem Básica da Escola de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais (ENB/UFMG) desenvolve o Projeto de Extensão "Compartilhando saberes em dor" voltado à educação e suporte a indivíduos com dor crônica. Em abril de 2020, devido à pandemia, o modelo de atendimento foi reorganizado de forma online com a proposta “Dor crônica: compartilhando saberes em tempo de pandemia”. O ingresso no projeto se dá por meio de demanda espontânea, encaminhamentos de profissionais e indicações de outros pacientes. Os participantes são acolhidos nos diferentes espaços de atuação do projeto, passando a ser acompanhados longitudinalmente pela equipe através de atividades educativas e terapêuticas.
A equipe é composta por profissionais de saúde e de áreas correlatas, por acadêmicos de Enfermagem e de Terapia Ocupacional, e coordenado por uma docente do ENB/UFMG, com mestrado e doutorado na área de dor. Atualmente, 74 pessoas participam do grupo, com atividades desenvolvidas via webconferências semanais pela plataforma Zoom®; atendimentos psicológicos individuais; produção de vídeos educativos disponibilizados no canal da Escola de Enfermagem da UFMG no YouTube® e “Desafio de talentos”, em que os pacientes são incentivados a compartilhar suas habilidades com o grupo no WhatsApp®.
4. RESULTADOS
No projeto participam 52 pacientes, 12 alunos da graduação, três pós-graduandos e sete pesquisadores. Além disso, foram convidados 25 profissionais para as webconferências.
Foram elaborados 82 vídeos didáticos, organizados em três eixos temáticos, a saber: (I) aspectos conceituais sobre dor; (II) estratégias terapêuticas para dor e (III) práticas integrativas. Os vídeos estão disponíveis nos Canais do YouTube® “Escola de Enfermagem da UFMG” e “Saberes em Dor Crônica” desenvolvido especificamente para divulgar a produção do projeto. Os quais já apresentam, aproximadamente, 3725 visualizações.
Foram organizadas 27 webconferências sobre aspectos conceituais e terapêuticos do cuidado em dor crônica realizadas por profissionais da enfermagem, psicologia, nutrição, fisioterapia, terapia ocupacional, medicina, artes plásticas, odontologia e direito.
Em relação à proposta denominada “Desafio de Talentos”, o projeto possibilitou a apresentação de 17 atividades sociais relacionadas a habilidades e competências significativas para os pacientes participantes do projeto. Os “talentos” apresentados pelos participantes foram diversificados, e englobaram atividades como maquiagem, canção, artesanato, jardinagem e produção de histórias infantis. O intuito da atividade foi promover o lazer, elemento terapêutico frequentemente negligenciado, e a autoestima, amiúde abalada pela dor crônica e suas consequências psicossociais.
Com a participação nos encontros online, através das webconferências, os participantes relataram melhora funcional, reinserção no seu meio social, aderência ao autocuidado e às orientações relacionadas à educação em saúde disponíveis nos encontros, vídeos e webconferências, além de destacarem, em suas percepções, a importância do seu envolvimento no projeto, como pode ser observado nos relatos dos pacientes: “Neste momento que nosso acesso à rede de saúde é limitado é de grande valia ter este grupo” (Paciente 1); “Adorei a reunião. Tirei minhas dúvidas, compartilhei com o grupo o meu estado emocional e percebi que existem pessoas com o mesmo problema. Com esta descoberta tive apoio de todos; o que fez me sentir melhor” (Paciente 2).
As falas dos pacientes mostram como o grupo, além de potencializar as capacidades do indivíduo, pode promover mudanças de comportamentos e atitudes direcionadas ao desenvolvimento da autonomia, da socialização e do melhor enfrentamento da dor.
Dentre os fatores limitadores do projeto, encontra-se a dificuldade de adesão dos participantes a propostas terapêuticas diferentes daquelas que se apoiam no uso de fármacos. Tal situação reflete a postura de uma sociedade ainda majoritariamente temente a análise biomédica clássica, evidenciada pelo abuso de medicamentos e atenção voltada apenas para a esfera física, além dos chamados ganhos secundários, estimulados pelo significado pessoal e social dos sintomas.
CONCLUSÃO
O projeto tornou possível o elo entre ensino, pesquisa e extensão aproximando a universidade da comunidade e a realidade do sujeito, ultrapassando os muros da instituição de ensino para adentrar o território e universo de significação das pessoas assistidas. As atividades se mostraram como alternativa viável para cuidados em saúde durante o período de isolamento/distanciamento social. O grupo permitiu aos participantes trocarem experiências, compartilharem vivências, buscarem soluções para o enfrentamento da dor crônica e de se ajudarem de forma solidária, agindo juntos no processo de saúde. Observa-se na divulgação dos talentos, a valorização do senso de autoeficácia e de características pessoais não focadas na doença e maior envolvimento dos participantes em atividades significativas.
» Marcela Lemos Morais
» Gabriel Correia Saturnino Reis
» Gabrielle Guimarães Gonçalves
» Célia Maria de Oliveira
» Paulo Henrique de Oliveira Barroso
DOR CRÔNICA: COMPARTILHANDO SABERES EM TEMPOS DE PANDEMIA