ENGAJAMENTO DISCENTE. UMA PROPOSTA DE PRODUÇÃO DE AUTORRETRATOS E POEMAS
Autor/es:
» Lovani Volmer
» Paula Lobo
Descripción:
Responsáveis pela proposta: Acadêmica extensionista Paula Lobo e Profa. Dra. Lovani Volmer
Equipe: Paula Lobo, Lovani Volmer, Júlia Colissi, Cláudia Goulart, Geraldo Orlandi e Charlotte Spode
E-mail: paula.mklobo@gmail.com
Telefone: 55 51995777164
Universidade Feevale - Projeto de Extensão Jovem Aprendiz
Rede social: jovemaprendizfeevale
Resumo
Muitas têm sido as discussões, nos últimos tempos, acerca das mudanças necessárias à educação, conectadas às necessidades do século XXI. Cada vez mais, busca-se o engajamento dos alunos para que sejam, de fato, protagonistas no processo de ensino aprendizagem. Este trabalho tem como objetivo relatar uma das experiências em que os jovens realizaram uma atividade de autorretrato, em que buscou-se trabalhar a partir da perspectiva de desenvolvimento das habilidades e competências, com o objetivo de promover a autonomia, a criatividade, e a autenticidade dos jovens de 14 a 19 anos que estão inseridos do Projeto de extensão Jovem Aprendiz Feevale.
Palavras-chaves: Projeto Jovem Aprendiz Feevale, Engajamento discente, Habilidades e competências
Introdução
O projeto de extensão Jovem Aprendiz, desenvolvido há 13 anos, na Universidade Feevale, tem como principal foco a preparação para a inserção no mercado de trabalho e exercício da cidadania de jovens provenientes de famílias de baixa renda, a partir de atividades integradas nas áreas técnicas e humanas, sendo essas aulas de Informática, Psicologia e Língua Portuguesa, sendo a maioria carga horária dedicada às aulas de Informática que ocorrem três vezes por semana.
No projeto, as aulas tem o intuito de preparar os jovens para a inserção no mercado de trabalho e desenvolver uma atuação dentro dessa perspectiva permite ao professor (a) um planejamento focado na formação integral do sujeito, não focando em conteúdos, mas em fazer com que o aluno construa o seu conhecimento de acordo com as habilidades e competências.
Percebemos o quanto é necessário formar jovens que entendam a importância de desenvolver habilidades e competências para que se tornem sujeitos criativos, com pensamento crítico, que estejam preparados para resolverem os problemas com conhecimento, sabedoria e discernimento.
Uma das propostas que desenvolvemos recentemente com os jovens foi a produção de “Autorretratos”, como o próprio nome sugere, tinha como objetivo a realização, nas oficinas de Língua Portuguesa, de autorretratos com palavras, visando a um olhar sobre si e, especificamente no que diz respeito à língua, à ampliação do vocabulário e à expressão oral. Segundo Freire, ‘’Quando mais me assumo como estou sendo e percebo a ou as razões de ser de porque estou sendo assim, mais me torno capaz de mudar, de promover-me’’. Ou seja, possibilitar uma proposta de atividade em que os alunos são conduzidos a se observar e perceber como, de fato, são, permite que eles sejam transformados, pois essa modificação ocorrerá através do engajamento e do envolvimento das aprendizagens com o ensino aprendizagem.
Antes de proposta a produção, buscou-se contextualizar, através de poemas, o conceito de Autorretrato, em que foram foram lidos, analisados, estudados e trabalhados os poemas Retrato, de Cecília Meireles, O Autorretrato, de Mário Quintana, e Autorretrato, de Juca Chaves. Explorou-se o vocabulário, a sonoridade, o ritmo e a musicalidade. Na etapa seguinte, o desafio foi brincar com as palavras e, com elas, criar seu autorretrato e a melodia de cada um dos textos, que foram livremente recitados pelos alunos. Foi desafiador para cada um deles criar seus próprios poemas, porém os resultados foram brilhantes e eles puderam perceber o quanto a escrita, quando praticada e exercitada, pode ser desenvolvida com êxito.
Após escritos e reescritos, os textos foram recitados, conforme a vontade de cada um. Embora não fosse obrigatório, todos recitaram, com orgulho, seus escritos, que, mais que possibilitar conhecer um pouco mais a língua portuguesa, possibilitou-lhes escrever e reescrever parte de si, suas memorescências, que remetem a Chauí (2006, p. 156):
Há um vaivém contínuo entre as palavras e as coisas, entre elas e as significações, de tal modo que a realidade (as coisas, os fatos, as pessoas, as instituições sociais, políticas, culturais), o pensamento (as idéias ou conceitos como significações) e a linguagem (as palavras, os significantes) são inseparáveis, suscitam uns aos outros, referem-se uns aos outros e interpretam-se uns aos outros.
Essa relação tem sua importância também no que tange à formação docente. Quando se fala do profissional de Letras, sabe-se que este deve ter consciência do que a língua abrange, levando em consideração, principalmente, o fator social e identitário.
Tardif (2008): “numa disciplina, aprender é conhecer. Mas, numa prática, aprender é fazer e conhecer fazendo”. Muito mais que aliar a teoria à prática, trata-se da compreensão de uma premissa básica para a docência, a empatia, aliada à necessidade de conhecer os alunos, para, a partir da sua bagagem, o professor planejar suas aulas.
Cabe destacar, também, a importância da relação professor-aluno, a qual, de acordo com Tardif (2008), envolve processos cognoscitivos e socioemocionais, percebidos na ação de ensinar do professor e no que diz respeito aos vínculos afetivos. Ademais, oportuniza-se aos acadêmicos algo dificilmente compreendido a partir de experiências de terceiros: o domínio de turma – especialmente ao perceberem que a expressão “domínio” se afasta do sentido comum de dominação, tomando uma nova forma, em que professor e aluno constroem juntos o processo de ensino aprendizagem, uma vez que, conforme Dewey (1976), a verdadeira experiência educativa envolve continuidade e interação entre quem aprende e o que é aprendido.
Considerando esses aspectos, o conceito de “aula” em que um ensina e os demais aprendem já não existe mais, assim como a língua portuguesa da escola distante daquela do universo dos alunos.
Buscar desenvolver atividades que respeite os saberes que os jovens já possuem, buscando assim não apenas respeitar, mas valorizar esses saberes e a partir deles desenvolver outros, como Freire nos aponta, ‘’colocar à escola o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos chegam a ela, mas discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos’’. Ou seja, valorizar e trazer para a sala de aula a realidade e a bagagem de vida de cada um dos jovens, ouví-los, valorizar sua história, suas vivências e vincular estes aspectos aos conteúdos a serem ministrados.
Essa sensibilidade no fazer pedagógico evidencia-se no olhar atento e na escuta ativa, na busca pelas reais necessidades dos beneficiados do Projeto, o que significa, também, valorizar seus saberes prévios. Partindo dessa premissa, a elaboração de materiais autênticos e de atividades que possibilitam olhar para si e o outro contribuem para uma formação humana, para além daquilo que qualquer manual pedagógico possa sugerir.
Estar, pois, inserido em ambientes de ensino aprendizagem em que todos ensinam e todos aprendem possibilita a acadêmicos de Letras, já em sua formação, vivenciar situações pedagógicas reais, para além dos estágios obrigatórios, o que lhes possibilita, muito mais que aliar a teoria à prática e trabalhar a língua, constituírem-se também como professores mediadores do processo de construção do conhecimento.
Conclusão
Em virtude do que foi mencionado, o Projeto de extensão tem buscado promover o engajamento do discente através de oficinas que objetivam desenvolver o sujeito de forma íntegra, focando na ampliação das habilidades e competências dos jovens participantes do Projeto, preparando-os para a inserção no mercado de trabalho e propondo atividades que os conduza ao crescimento, ao progresso e à aprendizagem significativa.
Referências
Chaui, M. A linguagem. Convite à filosofia. 13 ed. São Paulo: Ática, 2006. p. 156.
Dewey, John. Experiência e educação. 2. ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1976.
Freire P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra; 2009.
Tardif, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 9. ed. Petrópolis: Vozes, 2008.