CURSO REMOTO MULTILETRAMENTOS NA BNCC DO ENSINO FUNDAMENTAL: POSSIBILIDADES PARA O ENSINO DE LÍNGUA PORTUGUESA
Autor/es:
» Camila Steinhorst
» Taís Vasques Barreto
Descripción:
Taís Vasques Barreto
Camila Steinhorst
O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Ensino de Linguagem (NEPELIN), vinculado aos cursos de Letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e coordenado pela Prof.ª Dr.ª Francieli Matzenbacher Pinton, tem por objetivo promover a sistematização de estudos e pesquisas sobre o ensino de língua portuguesa, especificamente sobre as práticas de leitura, análise linguística e produção textual na perspectiva dos multiletramentos.
Em 2020, levando em consideração o contexto pandêmico, o grupo decidiu elaborar um curso remoto a fim de contribuir para a formação de docentes de Língua Portuguesa, intitulado “Multiletramentos na BNCC do Ensino Fundamental: possibilidades para o ensino de Língua Portuguesa em 2020” , no período de 19 de outubro de 2020 a 10 de fevereiro de 2021. O curso é também resultado da dissertação “Base Nacional Comum Curricular: análise crítica de discursos sobre ensino de Língua Portuguesa” (2021), de Rosana Maria Schmitt pelo Programa de Pós-Graduação em Letras (PPGL/UFSM).
Ministrado por integrantes do grupo, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Francieli Matzenbacher Pinton , o curso teve por objetivo promover reflexões teórico-metodológicas sobre o ensino de Língua Portuguesa em uma perspectiva de multiletramentos com foco na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do Ensino Fundamental. A BNCC foi promulgada em 2018 como o documento norteador do Ensino Básico no Brasil e elenca as habilidades e as competências que todo estudante precisa desenvolver ao longo de cada etapa de ensino.
A pedagogia de multiletramentos, por sua vez, foi afirmada em 1996, em um manifesto do Grupo de Nova Londres. De acordo com Rojo (2012), nesse momento, defendeu-se que era preciso a escola adotar os letramentos emergentes na sociedade, principalmente os relacionados às mídias. Assim, por multiletramentos, entendem-se as práticas sociais caracterizadas pela multiculturalidade, isto é, pelo hibridismo cultural, que engloba não apenas a linguagem verbal, mas também a não verbal (multimodal). Nessa perspectiva, multiletramentos são práticas coerentes com o atual contexto escolar, pois visam sujeitos constituídos por diferentes culturas, que se manifestam por meio de multilinguagens (ROJO, 2012).
Busca-se, a partir da pedagogia dos multiletramentos, promover um ensino voltado à construção de uma cidadania diferenciada, isto é, ativa em que os alunos são os agentes de seus processos de aprendizagem. Nesse sentido, Cope e Kalantzis (2009) afirmam que os processos de conhecimento constituem escolhas pedagógicas que os professores podem realizar considerando os objetivos de sua aula sem obedecer a uma sequência fixa: i) experienciar (envolve explorar o familiar e o novo), ii) conceituar (classificar por nomeação e por teorias), iii) analisar (analisar funcional e criticamente) e iv) aplicar (colocar em prática o conhecimento, de forma criativa e inovadora).
Compreendendo um total de 60 horas/aula, o curso foi organizado em seis módulos: i) panorama crítico da BNCC; ii) perspectiva de multiletramentos; iii) campo jornalístico-midiático; iv) campo de atuação na vida pública; e v) campo artístico-literário; vi) campo da prática de estudo e pesquisa. Ao longo da dinamização, promovemos encontros síncronos e assíncronos; fóruns; atividades didáticas sobre leitura, análise linguística/semiótica, produção textual e oral a serem desenvolvidas no contexto escolar, por meio de plataformas diversas, como Padlet e Slido.
O público alvo do curso foram os professores em formação inicial e continuada, abrangendo 25 participantes, dos quais 13 concluíram o curso. Com relação ao perfil desses participantes, podemos afirmar que 92,3% são professores em formação continuada, em comparação a 7,7% em formação inicial. Além disso, 76,9% atuam em Escola Pública, 7,7% em Escola Privada e 15,4% não atuam. Nesse sentido, o público beneficiado pelo curso são, em sua maioria, professores atuantes na Escola Básica Pública.
Para refletir e avaliar sobre o curso remoto “Multiletramentos na BNCC do Ensino Fundamental: possibilidades para o ensino de Língua Portuguesa em 2020”, utilizamos como instrumento investigativo um formulário de avaliação, via Google Forms. Ao todo, recebemos treze respostas no formulário.
Conforme os dados obtidos, 69,2% dos participantes alegaram ter tido uma ótima experiência com o curso e 38,5%, uma boa experiência. A qualidade dos materiais utilizados (vídeos, slides, aulas assíncronas etc) foram avaliados por 92,3% como ótima e por 1,7% dos participantes como boa. A organização dos módulos (vídeos, leituras, aulas e atividades) foi avaliada por 69,2% como ótima, 15,4% como boa e 15,4% como regular. Atribuímos a essas últimas porcentagens o fato de que, devido ao contexto pandêmico, o ritmo de produção e de leitura de todos foi afetado, bem como ao fato de o curso ter sido extenso e ter demandado bastante empenho dos participantes.
Além disso, ao serem perguntados sobre a contribuição do curso para sua formação, os participantes relataram que puderam se “aprofundar em legislações educacionais e pensá-las de uma maneira crítica”, ter “outra visão sobre como trabalhar atividades em sala de aula”, “reciclar a prática pedagógica”, “aprender sobre a BNCC e a perspectiva de Multiletramentos” e “fazer perceber as múltiplas maneiras de trabalhar a língua [...] para que os educandos tenham uma aprendizagem significativa e mais prazerosa”.
Ao longo da nossa participação como ministrantes e organizadoras do curso remoto, aprendemos que o número de atividades e de leituras, em uma próxima edição, pode ser um pouco menor, favorecendo também uma maior participação dos professores que estão atuando em sala de aula. De fato, o contexto brasileiro impactou no desenvolvimento do curso à medida que a crise sanitária modificou a rotina e aumentou a demanda de trabalho dos professores. Apesar disso, acreditamos que o curso foi muito bem sucedido, porque suscitou muitas discussões qualitativas sobre o ensino de linguagem na escola e sobre a BNCC em uma perspectiva de multiletramentos.
Desse modo, a troca entre mediadores e professores participantes, ou entre universidade e escola, foi o que mais importante para nós, porque aprendemos com sujeitos de outras cidades, com formações e visões do mundo diferentes. Pensando nessa experiência, intencionamos, em breve, promover a segunda edição do curso para ampliar ainda mais esse processo colaborativo de aprendizagem.
REFERÊNCIAS
COPE, B.; KALANTZIS, M. Multiliteracies: New Literacies, New Learning. University
of Illinois Urbana-Champaign. [online]. 01 jul. 2009. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/242352947_Multiliteracies_New_Literacies_New_Learning>. Acesso em: 10 out. 2020.
Rojo, R. Pedagogia dos multiletramentos. In: ROJO, R.; MOURA, E. Multiletramentos na escola. São Paulo: Parábola Editorial, 2012.