AÇÕES EXTENSIONISTAS PARA ALÉM DAS APARÊNCIAS: SOBRE MAÇÃS, APRENDIZADOS E SENTIMENTOS
Autor/es:
» Márcia Solange Volkmer
» Garine Andrea Keller
» Cláudia Tessmann
» Daniela Fernanda Prospero
Descripción:
Coordenadora do projeto: Professora Cláudia Tessmann
Professoras extensionistas: Professora Garine Andréa Keller e Professora Márcia Solange Volkmer
Bolsista: Daniela Fernanda Prospero
E-mail: bullying@univates.br
Universidade do Vale do Taquari - Univates
Projeto de extensão Bullying nas escolas: interlocuções com a educação em e para direitos humanos
Programa de extensão Direitos Humanos, Inclusão e Acessibilidade
Curso de Direito - Centro de Ciências Humanas Sociais e Aplicadas
Ações extensionistas para além das aparências: sobre maçãs, aprendizados e sentimentos
O relatório “Pondo fim à tormenta: combatendo o bullying do jardim de infância ao ciberespaço”, divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2017), mostrou que 43% das crianças e jovens do Brasil já foram vítimas de bullying. Esse número traz à tona o problema do bullying enquanto uma das preocupações da atualidade, tendo como foco o contexto escolar, ambiente no qual muitas dessas violências são registradas.
O bullying é considerado uma das formas mais comuns de violência escolar, apresentando consequências não apenas no desempenho dos alunos, mas também na saúde física e mental (ONU, 2020). A palavra inglesa bullying é utilizada para descrever um conjunto de violências praticadas por um indivíduo, ou por um grupo de pessoas, de forma repetitiva e intencional, contra sujeitos considerados incapazes de se defenderem (CAMBI; OLIVEIRA, 2016).
No Brasil, a Lei n.13.185/2015 reconheceu essa forma de violência escolar ao instituir o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying), e estabeleceu como dever das instituições de ensino “assegurar medidas de conscientização, prevenção, diagnose e combate à violência e à intimidação sistemática” (BRASIL, 2015).
Considerando que as Diretrizes Nacionais da Educação em Direitos Humanos orientam uma formação para a vida e a convivência, espera-se que as pessoas, através de uma Educação em Direitos Humanos, possam assumir uma posição de sujeitos de direitos e deveres (BRASIL, 2013). Dessa forma, a partir do reconhecimento da dignidade humana, e da valorização das diversidades, acredita-se ser possível evitar alguns tipos de violência, como o próprio bullying. Logo, uma Educação em Direitos Humanos se apresenta como uma possibilidade de transformação da realidade (BRASIL, 2013).
Os projetos de extensão da Universidade do Vale do Taquari – Univates, Lajeado/RS, buscam promover ações que contribuam com o compromisso social da universidade, possibilitando o exercício da cidadania e a participação crítica no contexto social. Nesse sentido, o Projeto de extensão “Bullying nas escolas: interlocuções com a educação em e para direitos humanos” tem por objetivo debater e refletir sobre o bullying nas escolas da comunidade regional, a partir da educação em e para direitos humanos.
Nesse contexto, as ações do projeto buscam educar para humanizar, despertando valores positivos e focando na prevenção do bullying. Em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Lajeado/RS, e contando com uma equipe interdisciplinar de professores e acadêmicos como mediadores nas ações com a comunidade, foram planejadas atividades para serem realizadas com crianças de 7 a 8 anos de idade, ou seja, do 2º ano do Ensino Fundamental. As ações são divididas em três etapas, e estão organizadas dentro da temática “Além das aparências: sobre maçãs, aprendizados e sentimentos”.
A primeira etapa é composta por uma oficina de contação de história, seguida de uma roda de conversa. Nesse momento, a equipe do projeto, formada por uma professora responsável, a bolsista do projeto e estudantes voluntários, dirige-se até as escolas para realizar a leitura dramatizada da obra “Pinote, o fracote e Janjão, o fortão” (Almeida, 2008). A conversa, mediada pelos extensionistas logo após a leitura, consiste na reconstrução da história para, juntamente com as crianças, realizar uma análise dos personagens e de seus comportamentos.
O segundo momento envolve a participação dos professores titulares de cada turma, os Professores Parceiros do projeto. Buscando que as práticas do projeto de extensão não aconteçam de forma isolada, cada Professor Parceiro é convidado a promover durante as suas aulas momentos de debate e reflexão que possam dar continuidade ao trabalho iniciado no primeiro encontro.
Por fim, a terceira e última etapa trata-se de uma segunda oficina, na qual a equipe do projeto volta às escolas para realizar uma experiência investigativa com as crianças. Durante a dinâmica, elas são incentivadas a elogiar e a xingar duas maçãs, para depois serem cortadas ao meio. Visto que as maçãs foram preparadas e manipuladas pela equipe do projeto, na noite anterior à oficina, ao analisarem as maçãs cortadas ao meio as crianças constatam que aquela maçã que foi xingada pela turma está machucada por dentro, embora por fora permaneça igual.
Posteriormente, também em uma roda de conversa, procura-se refletir com os alunos sobre as consequências que as palavras podem ter, e sobre como, em muitas ocasiões, a dor que o outro sente não pode ser vista fisicamente.
Até o momento, foram realizadas oficinas em 18 turmas do 2º ano do Ensino Fundamental de 12 escolas do município de Lajeado/RS, mobilizando mais de 300 alunos. É possível perceber que, a partir dos personagens apresentados ao longo da contação de história, na primeira oficina, as crianças são capazes de identificar similaridades em suas próprias relações com o outro. Em seus relatos, durante as rodas de conversa, as crianças conseguem apontar para situações de conflito e de violência já existentes no contexto escolar.
A participação do Professor Parceiro, na etapa intermediária, é considerada fundamental para as ações do projeto, pois possibilita que as crianças encontrem sentido nas discussões para além das oficinas do projeto. Ainda, constata-se que a dinâmica com as maçãs oportuniza um momento de sensibilização, no qual os alunos são estimulados a se colocar no lugar do outro, e a refletir sobre o sofrimento que pode ser causado não apenas por ações físicas, mas também por palavras.
Finalmente, considera-se que, através das ações desenvolvidas com as crianças, é possível promover o diálogo e a reflexão, proporcionando um espaço potente para a expressão de sentimentos. Além disso, destaca-se a importância da participação dos Professores Parceiros ao longo das atividades desenvolvidas pelo projeto.
Referências
Almeida, Fernanda Lopes de. Pinote, o Fracote e Janjão, o Fortão. São Paulo: Ática, 1997.
Brasil. Lei 13.185 de 06 de novembro de 2015. Institui o Programa de Combate à intimidação Sistemática (Bullying). Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13185.htm> Acesso em: 06.06.2021.
Brasil. Secretaria de Direitos Humanos da presidência da República. Educação em Direitos Humanos: Diretrizes Nacionais. Brasília: Coordenação Geral de Educação em SDH/PR, Direitos Humanos, Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos, 2013.
Cambi, Eduardo; Oliveira, Priscila Sutil de. Bullying e educação para os Direitos Humanos. In: Revista Aporia Jurídica (on-line). Revista Jurídica do Curso de Direito da Faculdade Cescage. 5. Ed.Vol. 1 (jan/jul-2016), p. 127-146.
Organização das Nações Unidas. Pesquisa da ONU mostra que metade das crianças e jovens do mundo já sofreu bullying. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/75467-pesquisa-da-onu-mostra-que-metade-das-criancas-e-jovens-do-mundo-ja-sofreu-bullying>. Acesso em 06.06.2021.