OS WEBINÁRIOS COMO ESTRATÉGIA DE EXTENSÃO NO ENFRENTAMENTO À VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER DURANTE A PANDEMIA
Autor/es:
» Ludmila Fontenele Cavalcanti
» Juliana da Fonsêca Bezerra
» Gabriela dos Santos Melo Bomfim
» Letícia Fernandes da Silva
» Ana Paula Moreirão Manzani
» Érica Cristina da Silva e Silva
» Auanna Marques Silva
» Yasmin Alves Anjo
» João Victor de Freitas Falck
» Patrícia Silveira de Farias
Descripción:
Responsável:
Patrícia Silveira de Farias. Professora associada da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (ESS/UFRJ), coordenadora do Grupo de Pesquisa e Extensão Prevenção da Violência Sexual (ESS/UFRJ) e do Grupo de Pesquisa Sociabilidades Urbanas, Espaço Público e Mediação de Conflitos (ESS/UFRJ). Doutorado em Antropologia, pós-doutorado pelo King's College London e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
E-mail: trapfarias@gmail.com
Tel.: +55 21 98400.7887
Redes Sociais:
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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Grupo de Pesquisa e Extensão Prevenção da Violência Sexual
Equipe de extensão:
João Victor de Freitas Falck, Yasmin Alves Anjo, Auanna Marques Silva, Érica Cristina da Silva e Silva, Ana Paula Moreirão Manzani, Letícia Fernandes da Silva, Gabriela dos Santos Melo Bomfim, Juliana da Fonsêca Bezerra, Ludmila Fontenele Cavalcanti.
Resumo
As expressões da violência de gênero contra as mulheres são caracterizadas como qualquer tipo de violência, seja física, psicológica ou social, praticada especificamente em virtude de sexo ou identidade de gênero (SARDENBERG; TAVARES, 2016). Reconhecida como forma de discriminação e violação de direitos humanos (OMS, 2012), a violência sexual é uma das manifestações da violência de gênero, sendo uma questão de saúde e de segurança pública que afeta todos os setores da sociedade. Essa temática vem sendo abordada há vinte anos pelo Grupo de Pesquisa e Extensão Prevenção da Violência Sexual, da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), articulando ensino, pesquisa e extensão. O Grupo tem caráter multiprofissional e interdisciplinar, atualmente composto por docentes de diferentes áreas, estudantes de variados cursos e níveis e também profissionais de diversas políticas públicas.
A pandemia de COVID-19 modificou a conjuntura das relações sociais em prol da prevenção do coronavírus. Conforme dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (2020), embora as denúncias em delegacias dos estupros de mulheres tenham diminuído em 23,5% no primeiro semestre de 2020, ocorreu um aumento de 3,9% de ligações para o 190 registradas como violência doméstica. Esses dados apontam para o possível agravamento dos casos de violência durante a pandemia e a dificuldade de acesso aos serviços de atendimento presenciais, como os de segurança e de saúde, indicando a necessidade de ações de prevenção que promovam a discussão sobre a temática.
Frente às restrições impostas pela pandemia de COVID-19, o Projeto de Extensão Prevenção da Violência Sexual precisou adequar suas ações ao modelo remoto.
Nessa direção, os webinários - modelos de seminários em formato online - foram idealizados como uma estratégia de divulgação e de promoção de debates virtuais sobre o tema das violências de gênero, potencializando a articulação entre ensino, pesquisa e extensão.
A "Série Aproximações Interdisciplinares" foi desenhada com objetivo de fortalecer e ampliar a rede de atores envolvidos com o enfrentamento às violências de gênero, buscando interação dialógica em ambientes virtuais.
Para a construção da iniciativa, foi realizada uma pesquisa para definição do modelo dos eventos, as plataformas mais adequadas e as possíveis abordagens da temática das violências de gênero. Definiu-se que os eventos seriam gratuitos e mensais, transmitidos ao vivo a partir da plataforma StreamYard para o YouTube, com no máximo duas horas de duração e com emissão de certificados para ouvintes, mediante o preenchimento de formulários de inscrição e de presença. Os eventos contam com dois palestrantes convidados e um moderador integrante do Projeto, com um primeiro momento de exposição e um segundo de construção de debates, por meio de dúvidas e comentários enviados pelo chat do YouTube.
Entre julho de 2020 e maio de 2021 foram realizadas 10 edições de webinários da "Série Aproximações Interdisciplinares", sendo abordadas as seguintes temáticas: violência sexual na pandemia; paternidades; enfrentamento à violência sexual; violência contra mulheres migrantes e nas fronteiras; expressões da violência de gênero; violência contra a mulher e as políticas públicas de enfrentamento ao racismo; jornalismo e o enfrentamento à violência contra as mulheres; direitos sexuais e reprodutivos em tempos de neoconservadorismo; feminicídio e tecnologias no enfrentamento à violação de direitos humanos. As gravações formam uma playlist, disponível online e gratuitamente, compondo um acervo de informações qualificadas sobre o enfrentamento às violências de gênero.
Os webinários têm como ponto de partida o entendimento das violências de gênero, com foco na violência sexual, como fenômenos extremamente complexos que devem ser abordados de forma multiprofissional e interdisciplinar. Dessa forma, a cada edição, os palestrantes contribuem a partir de áreas distintas, ampliando a rede de atores e promovendo um debate rico e abrangente. Nos webinários, construíram a discussão profissionais das áreas de Serviço Social, Enfermagem, Psicologia, História, Ciências Sociais, Antropologia e Comunicação Social e também militantes e sociedade civil, contribuindo com diferentes perspectivas. Essa iniciativa permite estabelecer parcerias com diferentes universidades, públicas e privadas, de diversas regiões e países, além da construção de alianças intersetoriais, interprofissionais e interinstitucionais. Participam dessa iniciativa as seguintes instituições: a Rede Nacional de Combate à Desinformação, o Observatório da Universidade de Fortaleza, o Observatório de Gênero e Diversidade na América Latina e Caribe, e o Projeto de Extensão Mulherio da Universidade Federal Fluminense.
A adesão do público aos eventos foi crescente, considerando o aprimoramento das estratégias de divulgação e a assiduidade dos ouvintes ao longo dos eventos, totalizando a média de 660 inscrições por edição. Em relação ao perfil do público, a faixa etária mais presente foi a de jovens entre 19 e 25 anos (51,3%), com predominância de mulheres cis (81,6%) e similar participação entre brancos (48,4%) e pretos/pardos (47,4%). A região brasileira com maior adesão aos webinários foi a Sudeste (80%). Quanto ao perfil acadêmico e profissional, a grande maioria dos ouvintes era estudante de graduação (81,9%) e profissionais de diferentes áreas (7,3%). Os estudantes dos cursos das Ciências Humanas (46,5%), das Ciências da Saúde (23,6%) e das Ciências Jurídicas e Econômicas (12,5%) foram os mais frequentes, respectivamente. Esses dados demonstram que, apesar da concentração de participantes graduandos de cursos das Ciências Humanas, o alcance é significativo em indivíduos de outras áreas de formação. Há também uma participação, embora ainda reduzida, daqueles que não fazem parte do corpo social da universidade, revelando o potencial de alcance da iniciativa dos webinários.
A interação dos especialistas com o público permite a articulação de informações, conhecimentos e experiências para além dos muros da universidade e das instituições. Tal interação dialógica é essencial nas estratégias de enfrentamento à violência sexual contra a mulher, que se constitui num assunto que perpassa todos os segmentos, classes e indivíduos que compõem a sociedade.
No decorrer das edições da "Série Aproximações Interdisciplinares", foi identificada a demanda por maior acessibilidade no Projeto. Buscando ampliar o acesso aos debates de gênero, a parceria com a Diretoria de Acessibilidade da UFRJ permitiu que os webinários passassem a contar, a partir da sétima edição, com equipe de tradutores/intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras). Também foi iniciada a tradução dos posts de divulgação nas redes sociais, para pessoas surdas, e a utilização da hashtag “PraCegoVer”, para pessoas cegas. Atualmente, esse é o único projeto de extensão da UFRJ que conta com uma tradutora/intérprete de Libras fixa como integrante.
Em relação à avaliação dos webinários, os indicadores do YouTube somam a média de 760 visualizações por edição. No formulário de presença, o campo para as avaliações qualitativas deixadas pelos ouvintes aponta para a satisfação com a abordagem da temática e a demanda por mais edições que contemplem outros recortes das violências de gênero. Cabe destacar que, por se tratar de uma iniciativa remota que conta com o suporte de tecnologias, as oscilações de rede durante as transmissões são limitações do próprio formato do evento.
Todo o processo de produção dos webinários conta com protagonismo estudantil. Os estudantes de diferentes cursos que integram o Projeto participam em todas as etapas, a partir da formação de uma Comissão Organizadora, sob supervisão docente, que promove o suporte técnico necessário à realização do evento. A experiência do Projeto na produção e sistematização de webinários foi sintetizada no "Manual para Produção de Webinários", disponibilizado no Pantheon - repositório institucional da UFRJ, a fim de compartilhar as etapas dinamizadas do processo e contribuir para a ampliação de iniciativas similares dentro e fora das universidades, potencializando sua função social.
Desse modo, os webinários se apresentaram como uma iniciativa original e exitosa que cumpre a proposta de articulação entre o ensino, a pesquisa e a extensão, durante e para além do contexto de distanciamento social, e com potencial de prevenção da violência sexual. Projeta-se a ampliação da divulgação na busca de maior alcance, nacional e internacional, e de adesão dos diversos setores sociais para além do público universitário.
Referências
Fórum Brasileiro De Segurança Pública (FBSP). 14° Anuário Brasileiro de Segurança Pública. São Paulo, ano 14, 2020.
Organização Mundial Da Saúde. Prevenção da violência sexual e da violência pelo parceiro íntimo contra a mulher: ação e produção de evidência [Internet]. Genebra: OMS; 2012.
Sardenberg, C.; Tavares, M. Violência de gênero contra mulheres: suas diferentes faces e estratégias de enfrentamento e monitoramento. Salvador: EDUFBA, 2016.